LADYFEST NO FOLHATEEN
"Meninas superpoderosas
Lugar de mulher é no palco, mandando ver na guitarra, no baixo e na bateria
Eduardo Knapp/Folha Imagem
Integrantes das bandas Las Juliettes, Siete Armas, Comma, Dominatrix, Anti Corpus e Fantasmina, que se apresentam neste fim de semana no LadyFest
ALAN DE FARIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Teclado? Sapatilhas de balé? Piano clássico? Nada disso fez a cabeça de Livia Cordeiro Amorim Caizavara Silva, que, aos dez anos de idade, mesmo com a resistência da mãe, começou a freqüentar aulas de bateria.
"Ela achou que era fogo de palha, mas, 11 anos depois, eu ainda não penso em parar de tocar. Sempre fui apaixonada por bateria. Meus olhos brilhavam ao ver o instrumento ou ao ouvir alguém tocando", confessa a garota, hoje com 21.
"No começo, eu pegava os potes de arroz da minha mãe e, com um par de colheres, acompanhava as músicas dos LPs do Balão Mágico", conta a baterista, que hoje divide seu tempo entre a faculdade de psicologia e turnês pelo interior de São Paulo com a banda Inlakesh.
Livia faz parte de uma tribo que, desde muito jovem, decidiu fazer rock'n'roll. E, para isso, vale tudo: exigir aulas de música no colégio, conversar com músicos mais experientes ou gastar toda a grana na compra de um instrumento.
Foi o que fez Bya Vantresca, 29, que começou a tocar baixo aos 14. "Não trabalhava, não recebia mesada, mas queria um baixo de qualquer jeito. Então, vendi um monte de coisas, minha bicicleta, meu videogame, e consegui comprar um usado sem tarraxas e sem cordas".
Ana Luisa Souza Aranha de Carvalho, 17, teve mais sorte. Como seus pais sempre ouviram rock, entre outros estilos musicais, quando ela pediu uma guitarra de presente, eles ficaram entusiasmados. "Eu já estava tomando algumas aulas e, quando fui comprar a guitarra, a família toda foi junto."
Garotos endeusam
Se a família muitas vezes apóia, o mesmo não acontece com os garotos. Segundo Kátia Prenholato, 20, guitarrista desde os 17, muitos deles acham que as mulheres não são capazes. "Mas, quando eles vêem que uma garota toca bem, ficam endeusando."
"Eles podem não te dar crédito por você ser muito nova ou podem questionar se você tem calo nos dedos, o que comprova que toca guitarra e tal, mas tudo de forma bem-humorada", afirma a baixista Bya.
"Estou acostumada a ouvir coisas do tipo: "Nossa, mas você toca forte". Os meninos costumam achar impressionante uma menina que toca com pegada, que consegue montar e desmontar uma bateria", completa Livia. Já as meninas, continua, "apóiam, dizem que sempre tiveram vontade de tocar, querem saber como é..."
E, se elas realmente querem saber, não é simplesmente comprar um instrumento e sair tocando. Além de paciência, a baixista Rayana Paes, 15, diz que é preciso ensaiar todo dia. Sua colega de banda, a baterista Bruna Barone, 17, concorda. No entanto ela é alvo de reclamações de vizinhos e, por isso, só ensaia durante as tardes.
Plugadas
Enquanto Rayana e Bruna reclamam da falta de originalidade das bandas que dominam as FMs brasileiras, Bya acredita que, pelo fato de as gravadoras estarem com problemas financeiros e a MTV não investir mais em videoclipes, "o mercado da música está ficando cada vez mais democrático e globalizado, já que não é mais tanto o dinheiro de marketing que define o sucesso de uma banda".
Nesse sentido, todas elas colocam a internet, sobretudo por meio do YouTube e do MySpace, como o melhor veículo para a divulgação de um trabalho. "Minhas bandas utilizam esses recursos porque é de graça, é "do it yourself" (faça você mesmo)", afirma Luisa.
O problema, dizem, é o número limitado de mulheres instrumentistas. Notam-se muito mais delas no underground do que sob os holofotes (veja galeria na próxima página).
Desse cenário alternativo, saíram bandas como Cansei de Ser Sexy e podem ser encontrados, entre outros, grupos como o Dominatrix, liderado pela guitarrista Elisa Gargiulo, uma das organizadoras do LadyFest (leia texto abaixo).
"Na cena independente, há um espaço maior para nós. Quando vamos para a mídia, temos que ceder: tocar e nos vestir como os homens gostariam de nos ver", acredita Luisa.
Apesar desta realidade, elas pouco se incomodam. Afinal de contas, o que elas querem mesmo é fazer rock'n'roll. É melhor aumentar o som!
PRA OUVIR
Banda da Livia Caizavara Silva: www.inlakesh.com.br
Banda da Bya Vantresca: www.myspace.com/lasjuliettes
Bandas da Ana Luisa: www.myspace.com/cinica , www.myspace.com/sietearmas e www.myspace.com/anticorpus
Festival terá 12 bandas
Doze grupos formados por garotas tocam no festival LadyFest Brasil, que
rola no próximo fim de semana. Bandas como Siete Armas, Las Dirces,
Dominatrix, Las Juliettes e Fantasmina poderão ser vistas ao vivo e a
cores em shows no Centro Cultural da Juventude (grátis) e no Hangar 110
(R$ 12). Programação e endereços: www.quiteria.com.br.
Mas nem só de música será composto o LadyFest, que surgiu em 2000, na
cidade de Olympia (EUA) -no Brasil, é realizado desde 2004. Com o tema
"Tire Sua Própria Virgindade", haverá também várias oficinas somente para
as meninas, mostra de vídeos e debates.
Segundo a organizadora Elisa Gargiulo, a mulher precisa entender como o
seu próprio corpo funciona e usá-lo em favor da liberdade."
Lugar de mulher é no palco, mandando ver na guitarra, no baixo e na bateria
Eduardo Knapp/Folha Imagem
Integrantes das bandas Las Juliettes, Siete Armas, Comma, Dominatrix, Anti Corpus e Fantasmina, que se apresentam neste fim de semana no LadyFest
ALAN DE FARIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Teclado? Sapatilhas de balé? Piano clássico? Nada disso fez a cabeça de Livia Cordeiro Amorim Caizavara Silva, que, aos dez anos de idade, mesmo com a resistência da mãe, começou a freqüentar aulas de bateria.
"Ela achou que era fogo de palha, mas, 11 anos depois, eu ainda não penso em parar de tocar. Sempre fui apaixonada por bateria. Meus olhos brilhavam ao ver o instrumento ou ao ouvir alguém tocando", confessa a garota, hoje com 21.
"No começo, eu pegava os potes de arroz da minha mãe e, com um par de colheres, acompanhava as músicas dos LPs do Balão Mágico", conta a baterista, que hoje divide seu tempo entre a faculdade de psicologia e turnês pelo interior de São Paulo com a banda Inlakesh.
Livia faz parte de uma tribo que, desde muito jovem, decidiu fazer rock'n'roll. E, para isso, vale tudo: exigir aulas de música no colégio, conversar com músicos mais experientes ou gastar toda a grana na compra de um instrumento.
Foi o que fez Bya Vantresca, 29, que começou a tocar baixo aos 14. "Não trabalhava, não recebia mesada, mas queria um baixo de qualquer jeito. Então, vendi um monte de coisas, minha bicicleta, meu videogame, e consegui comprar um usado sem tarraxas e sem cordas".
Ana Luisa Souza Aranha de Carvalho, 17, teve mais sorte. Como seus pais sempre ouviram rock, entre outros estilos musicais, quando ela pediu uma guitarra de presente, eles ficaram entusiasmados. "Eu já estava tomando algumas aulas e, quando fui comprar a guitarra, a família toda foi junto."
Garotos endeusam
Se a família muitas vezes apóia, o mesmo não acontece com os garotos. Segundo Kátia Prenholato, 20, guitarrista desde os 17, muitos deles acham que as mulheres não são capazes. "Mas, quando eles vêem que uma garota toca bem, ficam endeusando."
"Eles podem não te dar crédito por você ser muito nova ou podem questionar se você tem calo nos dedos, o que comprova que toca guitarra e tal, mas tudo de forma bem-humorada", afirma a baixista Bya.
"Estou acostumada a ouvir coisas do tipo: "Nossa, mas você toca forte". Os meninos costumam achar impressionante uma menina que toca com pegada, que consegue montar e desmontar uma bateria", completa Livia. Já as meninas, continua, "apóiam, dizem que sempre tiveram vontade de tocar, querem saber como é..."
E, se elas realmente querem saber, não é simplesmente comprar um instrumento e sair tocando. Além de paciência, a baixista Rayana Paes, 15, diz que é preciso ensaiar todo dia. Sua colega de banda, a baterista Bruna Barone, 17, concorda. No entanto ela é alvo de reclamações de vizinhos e, por isso, só ensaia durante as tardes.
Plugadas
Enquanto Rayana e Bruna reclamam da falta de originalidade das bandas que dominam as FMs brasileiras, Bya acredita que, pelo fato de as gravadoras estarem com problemas financeiros e a MTV não investir mais em videoclipes, "o mercado da música está ficando cada vez mais democrático e globalizado, já que não é mais tanto o dinheiro de marketing que define o sucesso de uma banda".
Nesse sentido, todas elas colocam a internet, sobretudo por meio do YouTube e do MySpace, como o melhor veículo para a divulgação de um trabalho. "Minhas bandas utilizam esses recursos porque é de graça, é "do it yourself" (faça você mesmo)", afirma Luisa.
O problema, dizem, é o número limitado de mulheres instrumentistas. Notam-se muito mais delas no underground do que sob os holofotes (veja galeria na próxima página).
Desse cenário alternativo, saíram bandas como Cansei de Ser Sexy e podem ser encontrados, entre outros, grupos como o Dominatrix, liderado pela guitarrista Elisa Gargiulo, uma das organizadoras do LadyFest (leia texto abaixo).
"Na cena independente, há um espaço maior para nós. Quando vamos para a mídia, temos que ceder: tocar e nos vestir como os homens gostariam de nos ver", acredita Luisa.
Apesar desta realidade, elas pouco se incomodam. Afinal de contas, o que elas querem mesmo é fazer rock'n'roll. É melhor aumentar o som!
PRA OUVIR
Banda da Livia Caizavara Silva: www.inlakesh.com.br
Banda da Bya Vantresca: www.myspace.com/lasjuliettes
Bandas da Ana Luisa: www.myspace.com/cinica , www.myspace.com/sietearmas e www.myspace.com/anticorpus
Festival terá 12 bandas
Doze grupos formados por garotas tocam no festival LadyFest Brasil, que
rola no próximo fim de semana. Bandas como Siete Armas, Las Dirces,
Dominatrix, Las Juliettes e Fantasmina poderão ser vistas ao vivo e a
cores em shows no Centro Cultural da Juventude (grátis) e no Hangar 110
(R$ 12). Programação e endereços: www.quiteria.com.br.
Mas nem só de música será composto o LadyFest, que surgiu em 2000, na
cidade de Olympia (EUA) -no Brasil, é realizado desde 2004. Com o tema
"Tire Sua Própria Virgindade", haverá também várias oficinas somente para
as meninas, mostra de vídeos e debates.
Segundo a organizadora Elisa Gargiulo, a mulher precisa entender como o
seu próprio corpo funciona e usá-lo em favor da liberdade."
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